|
|
2015
25/06/2015 - 07/08/2015 - "O Valor Absoluto do Azul"- Mai-Britt Wolthers
EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL - Galeria Fernandes Naday, Campinas, SP
O valor absoluto do azul
Traçava-se como um caminho quase incontornável. Era bastante evidente que a produção de Mai-Britt Wolthers, artista dinamarquesa radicada em Santos (SP) _ que já lidava com a escala de modo bastante hábil desde que exibira suas pinturas sobre papel na coletiva inaugural do grupo Aluga-Se, em 2010, uma das primeiras coletivas em SP_, ganhasse corpo, espessura e materialidade dentro do campo tridimensional. O interessante é que esse tridimensional apresentado agora em Campinas não pode se separar do pictórico, linguagem com a qual a artista tornou sua obra conhecida, e que esse tridimensional se hibridiza com outros meios e investigações, como o desenho, a citada pintura e, que bom, o vídeo e a performance.
Em O valor absoluto do azul , a fluidez e o frescor presentes em outros recortes da artista, como Equações, no CCSP (Centro Cultural São Paulo), em 2014, continuam a desenrolar a trajetória de Wolthers por uma senda continuamente experimental. A pouca reverência a cânones e sua insubmissão a caminhos já revolvidos criam leituras não lineares numa mostra como a atual, que podem ser iniciadas com esculturas metálicas em azul e terem um encerramento possível num azul mais conectado com a virtualidade, por entre o facho da videoprojeção de uma sala expositiva.
Essa presença matérica dissipada pelos espaços de O valor absoluto do azul adquire vida por texturas, profundidades, superfícies, volumes e planos variados, mas, de certa forma, sempre pede uma manifestação clara. Wolthers tem habilidade e técnica ao eleger uma cor-chave na história da arte (nem precisamos de Klein para asseverar isso) e não se esconde mesmo em suportes com a qual talvez não tivesse tanta familiaridade. Assim, o tom especular de suas esculturas em metal não se chocam com os volumes orgânicos e algo informes de tridimensionais dispostos em alguma sala expositiva e que também se ligam ao ar movente e circundante dos móbiles.
Porém, tais azuis capturam o olhar do público, que também é requerido numa especial atenção na videoinstalação final, em que uma figura em preto, sem identificação, começa a rearranjar coisas em azul, como um objeto esférico e outro que se assemelha a um ‘macarrão’ de piscina, sobre uma superfície similar a uma quadra de condomínio (em cinza). A irreverência da artista, aqui, ganha novos contornos, em tempos nos quais a herança construtiva nacional vai se desenhando como hegemônica, e, assim, concretos e neoconcretos viram totens onipresentes em análises diversas sobre o pictórico contemporâneo no Brasil. Wolthers não chega a tripudiar, mas insere elementos de caos e gesto no que se tinge como uma unívoca perspectiva de arte no Brasil, que, na realidade, é muito mais matizada e povoada por fragmentos do que se pensa, se fala, se defende (em teses) e se escreve correntemente.
Mai-Britt Wolthers, portanto, desenvolve com potência em O valor absoluto do azul alguns projetos esboçados em momentos anteriores. Um desses (pouco vistos) é Jeff Koons and me, conjunto de pintura de dimensões generosas (250 cm x 500 cm) e objeto feito em arame e linha plástica, exibido unicamente na coletiva Naturezas Descontroladas, no Centro Cultural Patrícia Galvão, em Santos, com curadoria de Juliana Monachesi (esteve em cartaz até fevereiro de 2015). A poética nada reverente, a boa técnica exposta em especial nas relações entre os grandes campos de cor e o tridimensional _que parece saltar do plano e assentar-se, sem tanto conforto, no espaço_, e o apoio do observador, que ganha postura ativa e cria uma outra vibração ao percorrer o trabalho inteiro, se apoderando do entorno (nem apenas do chassi nem da forma escultórica/objetual) e do vazio são características existentes no trabalho santista e que hoje se desdobram em novas corporeidades plástico-visuais apuradamente oferecidas em O valor absoluto do azul.
Mario Gioia, junho de 2015 |