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2016
18.05.2016 - 25.05.2016 - Beth Neves - Verbetes Informes
“Um dicionário começaria a partir do momento em que ele não desse mais o sentido das palavras (...). Assim, informe, não é somente um adjetivo com certo sentido, mas um termo que serve para desorganizar, exigindo, geralmente, que cada coisa tenha sua própria forma”, escreveu George Bataille na revista Documents, publicada em 1929. De Bataille para cá, pudemos convocar a palavra, a imagem, a fala e a poesia como tarefas de desarticulação de um caráter de semelhança com as coisas que existem no mundo, ou seja, admitir que tudo isto se constitua fazendo sumir de vista a relação de aparência com os objetos, as sensações, os nomes das coisas que já são conhecidos. Vem desta aposta batailliana – de despedaçar as coisas e não restringi-las a classificações e referentes – um tanto do título da mostra individual de Beth Neves.
A artista apresenta alguns projetos da Série Melancolia, que vem desenvolvendo ao longo dos últimos três anos, tempo em que experimentou procedimentos de despedaçar, despregar, cortar, descolar, mesclar, desfazer e refazer imagens e seus contextos. Beth Neves lida com a materialidade, com as estratégias de circulação e distribuição de conteúdos imagéticos que se relacionam a lugares de confinamento; com personagens e dispositivos que atuam entre a loucura, como metáfora de mundo, e o que é socialmente aceito; com questões estéticas, éticas e técnicas do fazer desenho. Nesse sentido, a ideia para estes pequenos comentários que aqui se delineiam é adentrar sua poética na forma de verbetes: infringindo um tanto do estilo autoconsciente da seriedade que permeia as receitas e fórmulas edificadas que atuam em processos de identificação das atividades, objetos e sensações humanas, e, ao mesmo tempo, propondo uma outra camada de percepção ao que a artista projeta no espaço da galeria.
Galciani Neves
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