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2008
14.10 a 30.11 - Philadelphia Stories e Outras Storias | Geraldo Souza Dias
Exposição no Museu de Arte Comtemporânea - MAC USP
Philadelphia Stories e Outras Storias | Geraldo Souza Dias Estrutura mundana Mais do que suportes, os jornais, os papelões e os impressos empregados por Geraldo Souza Dias dão origem à estrutura de suas pinturas. Derivadas de elementos mundanos como diagramações de folhetos, suas pinturas se aproximam ora de uma vertente construtiva, ora de aspectos deliberadamente kitsch (como comentei, não tenho esta postura ) quando a publicidade é o ponto de partida. Em alguns trabalhos, imagens impressas e já prontas nesses anúncios, que funcionam quase como clichês, passam para o primeiro plano e permanecem na obra mesmo depois de algumas camadas de tinta. Apesar disso, não se trata apenas de uma colagem que seguindo as lições da pop justapõe elementos da baixa cultura, publicidade e o design gráfico, com a alta cultura, a pintura associada a uma nobre e grandiosa tradição.
Como em assemblages, em seus trabalhos podem surgir elementos do mundo cotidiano, como um varal de roupa, ou mesmo outras telas, às vezes com chassi, coladas sobre o plano central. A liberdade no uso de materiais não identificados a tradição da pintura é análoga ao modo como as cores aparecem. Sem nenhum constrangimento que a submeta a alguma força cerceadora, a cor surge como elemento central da composição sem equivalências no campo da linguagem. Em vez de traduzir sentidos já constituídos, a cor é o encontro da percepção com mundo.
Recorrente na produção deste artista (o meu nome aparece muitas vezes), a palavra se comporta como as imagens: elemento de segunda mão oriundo dos impressos que adquirem outros sentidos quando isoladas de seu contexto original e integradas à pintura. O jogo entre aparecer e desaparecer é constante. Apenas com a subtração e o isolamento de algumas letras dos textos dos impressos, palavras são criadas e recriadas em diversas línguas. De acordo com o contexto em que são articuladas, as palavras agregam os sentidos mais diversos, mas sempre mantendo a ambigüidade que lhe é própria.
A espacialidade destas pinturas se mostra em construção, mas sem a obrigação de seguir um projeto rígido e anterior a elas mesmas. Mesmo nos formatos horizontais e verticais, como nas estruturas diagonais que brotam de espécies de dobras, o espaço é todo fragmentado e revela uma relação íntima com o fazer. No cotidiano acelerado das grandes cidades é difícil o pintor não estabelecer uma relação descontínua e fragmentada com sua obra.
É interessante notar que mesmo nas fotografias de Filadélfia a justaposição e sobreposição de espaços e áreas de cor reaparecem, principalmente em alguns reflexos de arranha-céus espelhados. Os letreiros nas fachadas dos edifícios nos trazem palavras que parecem ter saído das pinturas de Geraldo Souza Dias e não da cidade. Quando a experiência da vida cotidiana está impregnada no trabalho e vice-versa, não importa mais quem é anterior: a pintura nasce de uma estrutura pré-existente não porque ela a reproduz, mas porque nos revela o que podemos, pela pintura, perceber no mundo. Cauê Alves, outubro, 2008
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