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VICENTE DE MELLO | COLEÇÃO ITAÚ DE FOTOGRAFIA BRASILEIRA
de 01.06 a 05.08.2012
Centro Cultural Paço Imperial
De dia 1 de junho a dia 5 de agosto visite no Centro Cultural Imperial a exposição Coleção Itaú de Fotografia Brasileira com curadoria de Eder Chiodetto. Vicente de Mello apresenta a sua obra Eclipse 1919 da série Galáctica.
O Elogio da Vertigem
Essa mostra apresenta um recorte da Coleção Itaú de Fotografia Brasileira enfocando os últimos 60 anos da
produção fotográfica de caráter mais experimental. O recorte do acervo visa mostrar a capacidade nacional
de absorver e transformar influências estrangeiras ao mesmo tempo que tangencia a vertiginosa história
sociopolítica do país e pontua a forte expressividade da fotografia brasileira.
A fotografia não foi apresentada como uma linguagem artística na Semana de Arte Moderna de 1922. Na
Europa, no entanto, artistas impulsionados pelo dadaísmo e pelo surrealismo já haviam levado a fotografia a
experimentar voos libertários. No Brasil, demoraria cerca de 25 anos para esses impulsos ecoarem.
Colaboraram decisivamente para a mudança de patamar a chegada de fotógrafos europeus que, escapando
das agruras da Segunda Guerra Mundial, começaram a trabalhar no Brasil disseminando os preceitos
modernistas.
No campo mais experimental, foi fundamental a produção singular de Geraldo de Barros (1923-1998). Suas
experiências incluíam fotomontagens, colagens e intervenções diretas no negativo que resultavam em
abstrações e num pulsante elogio das formas, como se pode observar nas fotografias que constituem o
núcleo "modernista" dentro da Coleção Itaú. A partir do final dos anos 1940, vários fotoclubistas − como
José Yalenti, German Lorca, José Oiticica Filho e Thomaz Farkas − enveredaram por esse caminho criando
um primeiro período mais consolidado do que podemos chamar de fotografia artística ou experimental.
Para a mostra no Instituto Tomie Ohtake, a curadoria optou por privilegiar trabalhos da produção
fotoclubista que enfocam a paisagem urbana − tendo a arquitetura modernista da Escola Paulista como
ícone − e o homem, como forma de percebermos mais claramente as conexões e os desdobramentos
estéticos e conceituais que ligam a produção dos fotógrafos modernos aos autores contemporâneos.
Sugerir pontos de contato entre os tempos pré e pós-ditadura é um dos intentos da exposição.
Entre 1964 e 1985, sob a ditadura militar, a fotografia voltou-se quase exclusivamente para sua
funcionalidade documental, raramente conseguindo direcionar um olhar mais crítico ao regime, em razão da
censura imposta aos meios de comunicação.
Foram raros os artistas que utilizaram a fotografia durante essa época para experimentar novos limites da
linguagem e, sobretudo, para realizar obras que, metaforicamente, criticassem a ditadura. Duas dessas
exceções foram os trabalhos de Boris Kossoy e Carlos Zilio, expostos agora em uma espécie de corredor,
para marcar simbolicamente o período.
O fim da ditadura militar e o processo de democratização criaram uma renovada atmosfera que propiciou a !
retomada mais livre e menos dogmática da produção artística na fotografia. Serviram como guias dessa
nova fase três autores seminais: Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudia Andujar. Realismo e ficção
se mesclaram de tal modo em suas obras que uma espécie de vertigem passou a ser a melhor forma de
encontrar uma raiz definidora da estética e da visão de mundo propiciada por seus trabalhos.
A nova geração seguiu esses passos que se refletem, como podemos observar, na produção dos jovens
artistas aqui presentes, num território expandido em que a fotografia muitas vezes surge na imbricação com
outras linguagens como a escultura, o vídeo, a pintura e a gravura.
Com esse histórico de sobressaltos sociopolíticos, econômicos, tecnológicos, estéticos e conceituais, a
fotografia brasileira foi ganhando musculatura e absorveu as influências estrangeiras sem nunca deixar de
acrescentar a elas o caráter nacional, mantendo assim a atitude antropofágica propalada por Oswald de
Andrade, que, no Manifesto Pau-Brasil, pedia “estrelas familiarizadas com negativos fotográficos”.
Nessa edição da mostra, que já passou por Paris e Rio e Janeiro, optou-se por desacomodar as obras da sua
cronologia para estabelecer, assim, um espelhamento lúdico no qual se evidenciam relações formais – mas,
sobretudo, uma atitude libertária diante da representação fotográfica entre os dois períodos abordados.
Uma maneira de salientar que a evolução de uma linguagem não se dá, necessariamente, de forma linear,
mas em vertiginosas espirais desenhadas pelo tempo e pela cultura.
Eder Chiodetto
curador
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